Jairo Oliveira Leite Junior (neto de Tia Neiva)
Século XX, década de 50. Uma jovem viúva, de tradicional família católica do interior de Goiás, criando sozinha, quatro pequenos filhos e uma afilhada, vê-se obrigada a aprender os mais diversos ofícios para sobreviver - costureira, fotógrafa, vendedora ambulante, motorista profissional, caminhoneira... Viajando de cidade em cidade, enfrentando desafios, dificuldades e a hostilidade dos que, naquela época, discriminavam a mulher que trabalhava.

Eis que a nossa jovem, com seus filhos e seu caminhão, encontra uma grande oportunidade: trabalhar na construção da nova capital do Brasil! Instala-se na Cidade Livre, hoje Núcleo Bandeirante, e começa sua jornada sem descanso, dirigindo seu caminhão.

Inesperadamente, seus belos olhos castanhos começaram a vislumbrar alucinações, pessoas que atravessam do nada à frente de seu caminhão, para logo desaparecerem em seguida; seres que tentam travar com ela contatos os quais ela não assimilava; incorporações que a faziam quebrar tudo à sua volta.
Em meio a este pesadelo, pensa buscar ajuda, mas onde? Na Igreja, claro. Falando com o vigário, ouve apenas palavras de consolo: “você está cansada, minha filha. Descanse um pouco e cumpra penitência, que logo isso passa”. Não passou.

Um amigo lhe sugere o psiquiatra do acampamento. “Fique tranqüila, vou lhe receitar um medicamento para acabar com as ilusões”. “Ouça, Doutor – disse ela. Neste mesmo momento eu estou tendo mais um dos meus delírios, estou vendo um senhor atrás de você, dizendo se chamar Juca, ser seu pai e ter falecido há alguns dias”.  A reação do médico não podia ser pior: “meu pai! Meu adorado paizinho! Fale mais! Onde ele está, como ele está?”. Mais confusa e desesperada do que nunca, ela foge dali deixando o médico com seu drama.

E agora? O que fazer se a igreja e a medicina não lhe explicavam o que estava acontecendo? As visões não cessavam, ela própria já se achava louca, até que conheceu uma senhora kardecista, a Dona Neném, que se aproximava dela e lhe dava, aos poucos, as primeiras lições sobre a vida espiritual. Aos poucos, ela ia compreendendo que era uma médium especial e antevia a dimensão daquele fenômeno. Já ouvindo os espíritos que se apresentavam, aprendia cada vez mais e a sendo preparada para uma grande missão.

Começaram a surgir pessoas de todos os lugares em busca de auxílio, crianças em busca de um teto. Foi-se formando uma pequena multidão ao seu redor, e ela já não tinha condições de continuar trabalhando.

Depois de um chamado da espiritualidade, ela, D. Neném e toda aquela gente se mudam para Alexânia. Lá, em 1959, orientadas pelo espírito de Francisco de Assis, manifestado na roupagem de Pai Seta Branca, elas fundaram uma nova doutrina, chamada de União Espiritualista Seta Branca. Novas instruções eram trazidas do céu todos os dias, formando rituais e preparando aquela gente para uma vida missionária.

Anos de muitas dificuldades e trabalho se passaram, almas encaminhadas e pessoas curadas. Cada vez mais atuante, a espiritualidade as orienta para um outro caminho. A missão não podia continuar ali.

Sem a presença de D. Neném, nossa médium partiu com seu povo para Taguatinga, onde os sacrifícios e os problemas continuaram.

Seus filhos, que cresceram vendo a mãe na missão incansável, estando ao seu lado em todos os momentos, começaram a formar suas próprias famílias.

Um dia, um visitante lhe chamou sua atenção. Pai Seta Branca, o Assis, lhe apontou aquele homem como um parceiro do seu trabalho. Unidos pela afinidade e pela transcendência de seus espíritos, ela e Mário partem para o local onde hoje é o Vale do Amanhecer, para ali darem prosseguimento àquela  doutrina, que se desenvolvia a cada dia.

Os anos foram passando, mais e mais pessoas se uniam à médium, cuja clarividência se tornava mais intensa e mais sublime. A espiritualidade trouxe àqueles médiuns a iniciação crística, o mestrado, as indumentárias e os trabalhos iniciáticos.

A magia e a ciência espiritual juntas, num só lugar. Heranças transcendentais das mais ricas civilizações do passado, das mais belas doutrinas, trazidas por intermédio de sua mediunidade e, unificadas, formando um só sistema.

Em 1985, Tia Neiva partiu para o mundo com o qual aprendeu a conviver dia e noite, mas nos deixou o seu filho, o Doutrinador, preparado para levar o amor e a Luz do evangelho à humanidade.

Fruto de sua vida missionária, o Vale do Amanhecer, é hoje esta luz que conhecemos.

Tia Neiva: Um exemplo de vida, de amor e de fé

Jairo Oliveira Leite Junior (neto de Tia Neiva)

Comentários

Comente com amor! Construa, não destrua! Críticas assim serão sempre bem vindas.

Postagem Anterior Próxima Postagem